Poucas palavras

Sejam bem Vindos!

Espero que encontrem um pouco de conforto, talvez satisfação ou apenas passem um pouco de tempo distraídos com algumas poesias, contos, crônicas e pensamentos, pequenas reflexões contemporâneas, do pretérito e de um futuro que já passou e que ainda virá. O que realmente importa é que a arte é libertadora e nos acompanhará por toda nossa existência.

Sou Professor de Português e Literatura, Graduado em Letras pela UFMG, e espero com o tempo ir tentando dar sentimentos a estas simples e leves palavras.

Por favor, fiquem à vontade para opinar, sugerir e criticar. Saibam que estou aberto a observações, assim poderei ir melhorando ….

Abraços Fraternos!

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segunda-feira, 16 de abril de 2018

Eliot (Simples)

Eliot

Seria simples poder somente pensar, almejar as singelas harmonias presentes no ar. Sem um quê de preocupação com o ontem, o agora ou o amanhã. Foi com estes pensamentos que Eliot saiu de casa em uma manhã quente com um céu carregado de nuvens que prometiam uma tempestade. Ao tomar o coletivo que o deixaria em seu labor diário pensou em como poderia realmente ser simples, mas não era. Lembrou-se da noite anterior, não dormiu bem, na verdade já não dormia bem a alguns anos, mas isso não era problema pois também se configurava simples, mormente comum dentro de uma vida acelerada e um pensamento que a acompanhava em lampejos. O divagar consigo era uma espécie de autorreflexão, talvez um tipo comum de narcisismo exacerbado, este que todos temos ao ver nosso reflexo no espelho, na alma.

Pediu licença e sentou-se no fundo do ônibus. Observar os rostos todas as manhas era um passatempo metódico mas não deixava de ser interessante, o que mais parecia ser provável não o era, as mesmas pessoas, os mesmos horários, mas as feições eram diferentes, captar as emoções presentes nessas feições sempre levou Eliot a galgar novos mundos em um curto espaço de tempo, o mais comum poderia não ser realmente tão fugaz. Havia uma moça, por exemplo, que tinha uma expressão para cada manhã, os dias pesavam de forma abstratas; nas segundas-feiras ela estava com um sorriso estampado, com o decorrer dos dias este sorriso ia se esvaindo, e as sextas ele já não existia. O curioso era que este efeito era contrário na maioria das pessoas, não era estranho, era diferente. Eliot se encantava por tudo que lhe fosse alternativo, fora do comum, o que não era padronizado dentro de uma normalidade cabal. Um simples sorriso que exprimisse a singeleza e a sinceridade que permeia as almas dos inocentes.

Incomum, talvez a palavra certa seja essa, Eliot sabia muito bem a carga semântica que este termo soava.  Era uma pessoa dentro dos padrões, estes estabelecidos como normais por uma sociedade que apresenta em seu decurso um comportamento de massa. Diferente era a alcunha que recebia quando em poucos momentos expressava sua opinião, seja ela no trabalho, em casa, na vida. Chamavam-no de “o estranho”. Ele nunca se incomodou muito com o apelido, mas suas opiniões foram ficando cada vez mais escassas, rareando, sumindo. Com o tempo   limitou-se apenas aos cumprimentos formais usuais, como manda uma boa educação tradicional. No mais, se afundava em sua cadeira giratória e fazia seu serviço de forma automática e repetitiva, mas com avidez, não gostava de ser cobrado, não pelo simples ato da cobrança em si, mas pelo fato de não querer travar um diálogo com outrem. Suas respostas se resumiam basicamente em sim e não e bastava isso umas quatro ou cinco vezes por dia. A ideia de se comunicar de mais o apavorava circunstancialmente, silêncios que permeiam uma total falta de comunicabilidade. Mas a situação nem sempre foi essa, o diálogo já foi algo praticado assiduamente por Eliot, antes, no início do final, mas sem delongas caro leitor, vamos agora ao ponto inicial, as nuvens carregadas de uma manhã de março....

Eclésio Giovanni - Eliot – Da Consternação do Pensar, Parte I

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